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A luz


Era sua carta de suicídio.

Ela achava necessário avisar a todos os motivos de sua decisão. Não conseguia mais encarar as pessoas na rua e nem se levantar de manhã ou fazer as coisas mais simples do seu dia.

Sentada na cadeira, à beira da mesa, olhava a folha de papel como quem fita um pôr-do-sol. Contemplava a imagem e, ao mesmo tempo, não conseguia entender seu significado. “Preciso escrever, mas não sei para quem vou escrever”, pensou.

Não sabia também o que escrever no papel. Começou a rabiscar a folha e percebeu que a caneta estava falhando. Tomou um lápis em sua mão e, ao começar a escrever, a ponta quebrou. Duas tentativas de iniciar a derradeira carta e ela falhou miseravelmente em sua pequena missão. Será que ela não conseguiria nem ao menos deixar registrado seus motivos para abandonar este mundo?

Olhou novamente a folha de papel e conseguiu ler: “Desculpem-me”. Já havia escrito o texto, mas não compreendeu o porquê de ser justamente esta expressão. “Desculpas pra quem? Quem fez algo de errado?”, gritou em voz alta. Acalmou-se. Era madrugada e poderia incomodar os vizinhos. Nunca havia sido notada por seus vizinhos e não queria que isso mudasse justo nesse momento.

Segurou a folha em suas mãos e colocou o papel contra a luz. A iluminação permitiu que ela visse o outro lado da folha. Não estava em branco. Era um desenho de sua filha, mostrando a mãe sentada no sofá enquanto ela brincava ao seu lado. Levantou-se e percebeu que havia ao menos um motivo para continuar viva. Não havia desculpas. Alguém precisava dela.

A filha estava na escola e ela decidiu que iria buscá-la para aproveitar o dia. Desceu rapidamente o primeiro lance de escadas e tropeçou no segundo lance. Enquanto caía, sua mente se desocupou de qualquer pensamento. Tudo ficou calmo. Veio a luz e depois tudo se apagou. Inclusive ela. Fora apagada deste mundo.

E a filha? Como ficou? Crie a história mais adequada para ela. Pense em algo e não deixe que o apagão em sua mente inviabilize um final interessante para esta história. É com você!

Autor: Carlos Raphael Rocha