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Resultado da Votação: Fuga

Mesmo com alguns desafiantes fugindo da raia da votação, a votação do tema FUGA foi unânime. Todos os votantes cederam ao texto do Matheus, que leva esta rodada com a escolha do próximo tema. Parabéns ao Matheus e aos demais participantes.

| Fuga Quinta Rodada Resultado


Votação da Quinta Rodada: Fuga

Desta vez os desafiantes não fugiram da raia, ou melhor, da participação. E nem fugiram do tema, como a metalinguagem poderia sugerir.Votação

Leia os textos, clique no título deste tópico de votação, ou clique aqui, para votar via comentário, até o dia 15 de novembro. Se o mais votado não fugir, dia 16 já teremos novo tema para a sexta rodada.

| Fuga Quinta Rodada Votação


O filho de Marina

Era um dia como outro qualquer, acordei cedo e tomei um banho, disse bom dia ao meu irmão, ele sempre estudava muito para se tornar médico, afinal não tinha sequer tempo de limpar as folhas dos jornais e as seringas usadas no chão seu quarto, ele estava sempre sentado na sua escrivaninha tremendo e olhando fixamente para o seu livro, eu sentia orgulho de admirar sua dedicação.

Puxei a cortina de pano que separava meu quarto da cozinha, o café estava pronto como sempre, sorri e peguei algumas xícaras do chão e limpei o caco das outras, papai estava conversando com Joana animado como sempre (depois que mamãe saiu viajar, Joana a amiga do papai, veio morar com a gente), ele falava alto o bastante para que se ouvisse da rua, ele brandia uma tábua suja com molho de tomate enquanto Joana chorava de alegria, ela limpava o molho de tomate da camiseta e dos cabelos e do chão enquanto segurava um pano junto à cabeça. Tomei meu café e saí de casa. Chegando no ponto de ônibus fui abordado pelos meus amigos, todos sorridentes, como de costume me deram um cumprimento caloroso e pediram dinheiro para comprar os doces que dividiríamos mais tarde (eles ficavam com os caramelos e eu com embalagens, não eram tão gostosas mas às vezes ainda tinham um gosto doce) limpei o sangue que tinha caído na minha camiseta e me levantei do chão quando eles foram embora.

Quando o ônibus chegou procurei com os olhos um assento mas estava lotado, o cobrador era um homem gentil, acenou para mim logo que eu entrei:

– O dinheiro, e anda logo que eu não tenho o dia todo.

Eu até tinha o dinheiro…

– O quê? Já não basta ser segunda-feira… anda, cai fora.

– Mas eu…

– Você não tem  dinheiro e eu não tenho paciência, agora vaza!

Saí do ônibus e comecei a caminhada em direção à escola.

No caminho resolvi passar na casa do Tio Arnoldo, ele não é meu tio de verdade, mas é um velho amigo da minha mãe e sempre foi muito gentil comigo, ele sempre me oferecia um chá ou perguntava se eu queria entrar para jogar xadrez, talvez ele pudesse me levar à escola hoje.

– Oi!, tio!

– Ora Ora, olha só quem veio visitar o tio de novo!

– Tio Arnoldo, eu perdi o ônibus de novo, você pode me levar pra escola?

– Claro garoto, será um prazer, mas primeiro deixe-me dar uma olhada em você.

Tio Arnoldo é bem estudado, não sei bem em que… mas ele parece saber oque está fazendo, me deitei no divã e começamos a conversar enquanto ele anotava tudo.

– Então, podemos começar pelo seu irmão?

– Ah, continua o de sempre, ele tem se dedicado muito, quase não sai do quarto.

– Hmmm, entendo… você não tem notado nada de estranho nele?

– Como assim? Ele continua o de sempre!

– Certo, certo. Quanto a Joana? Tem se entendido bem com ela?

– Joana é incrível, ela e papai estavam hoje mesmo limpando a cozinha, tinha muito molho de tomate lá.

– Ai, isso deve ter sido feio…eh, … nossa… quero dizer, … e você não tem visto nada de estranho? Talvez algo de ruim?

Virei a cabeça e comecei a admirar as pinturas nas paredes do consultório, tudo tão lindo.

– Certo, certo…

Tio Arnoldo fez algumas anotações, resolvi pegar uma carta de cima da mesa e comecei a ler:

“Talvez para o garoto fugir ainda seja a melhor opção

ele tenta negar a realidade que tem e se esconder

em seu mundo onde tudo é ‘cor-de-rosa’, geralmente

eu iria sugerir tratamento, mas, por favor Marina, você

deixou este garoto no inferno, não sei se ainda posso…”

Não pude ler mais que isso, Tio Arnoldo pegou a carta e escondeu na gaveta, ele parecia um pouco assustado logo de cara, mas em pouco tempo retornou sua expressão compreensiva de sempre, ele sugeriu que eu tirasse uma soneca enquanto ele fazia alguns telefonemas, dormi pensando na sorte que tenho de viver assim.

Autor: Matheus Furtado Immich

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Querida vovó

Peço desculpas por lhe deixar, sei que lhe devo muito desde a morte de meus pais, mas sei que não posso lhe levar, sua saúde está frágil, lhe desejo melhoras.

Vó, eu te deixei, fugi para longe, estou sendo perseguido, irei à Europa em busca de uma vida nova no velho continente.

Quero sua bênção para conseguir fugir e recomeçar, sempre lembrarei de você .

Espero conseguir, e não morrer afogado como tantos, chegar e ultrapassar as fronteiras, lhe deixo algumas economias que me restaram, a senhora precisará; eu vou a pé, sou jovem, ultrapasso o mar em um barco, levei alguns dólares.

Agradeço à senhora por me cuidar desde a morte de meus pais, pareço ingrato ao lhe deixar neste caos de milícias terroristas, mas a travessia é longa, posso acabar morto, mas mesmo assim eu lhe agradeço muito.

Ass: Seu neto.

 

Após esta carta fugi, abandonei tudo e morri. Não consegui passar ao mar, o capitão abandonou o velho barco lotado, lembrei de minha pobre avó e caí ao mar. Fui mais uma vítima do conflito que se alastra dia a dia, deixei o que havia de mais importante em minha vida, meu esforço foi inútil, perdi para a morte e as águas frias e escuras.

Autor: Gabriel de Rós

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A punição é a morte

Nesta hora, neste cômodo mal iluminado, decidi pôr um fim em minha vida. Não mereço viver neste mundo. Não sei o que fazer, pois meus erros não têm volta. Sou fraca. Não consigo aguentar essa dor (deve ser arrependimento, eu acho. Nunca senti isso na vida, ainda não sei como funciona).

Durante a minha infância, tudo que vivenciei foram trevas. Fui criticada, amaldiçoada por meu nascimento, e, por fim, abandonada à mercê de minha própria sorte. Por isso, por muitos e muitos anos me considerei superior à humanidade, e achava defeito em toda e qualquer criatura existente (quem, que já passou por situação semelhante, iria culpar-me por isso?). Tanto que decidi fazer justiça com minhas próprias mãos a todos a quem eu achava a penalidade da morte merecida, só para mostrar que não estava sob o controle de míseras regras impostas a uma sociedade que parecia inocente, mas era má.

Um dia, decidiram me punir por essas infrações, e aprisionaram-me em um cárcere injusto e violento. Foi onde conheci pessoas que compartilhavam o mesmo sentimento que eu: A repugnância. Pessoas que passaram pelo mesmo que eu. Passei meses planejando minha vingança, o que faria de destrutivo quando escapasse dali. Tempo, para mim, não era problema: eu permaneceria lá, perante as ridículas leis aplicadas a mim, por um prazo indeterminado.

Foi quando conheci alguém que mudou meu pensamento: Um ser inocente, que não havia feito nada para estar aqui. Me falou de sua família, da saudade que tinha da sua vida. Me mostrou uma bondade que eu nunca havia conhecido, que eu nunca achei que fosse possível existir.

Foi aí que percebi o quão cega fui durante minha vida, quantas vidas iguais à minha criei ao fazer justiça com minhas próprias mãos. Percebi que a única coisa que fiz foi fugir da verdade: Eu que era a pessoa má. E a punição para isso é a morte. Por isso, deixo esta carta à disposição para aquele que pensa fazer justiça com as próprias mãos. Só digo uma coisa: A punição para as pessoas más é a morte. Mas antes veja quem é a pessoa má da história.

Autora: Cecília Paulina

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Casos de família

CENA SALA DE ESTAR INT/DIA

Sala de estar de uma casa de familia. Jogo de sofá, telefone, mesinha de centro e tv. O PAI (30 anos) está sentado ao lado do telefone. A FILHA (11 anos) brinca com bonecas no chão da sala.

(som de telefone)

PAI

Alô…Sim é ele…Você tem certeza?…Entendo…

Ele bate o telefone no gancho. Sai da sala.

CENA QUARTO INT/DIA

Puxa uma mala de cima do guarda roupa. Abre-a sobre a cama. Começa a pegar coisas e jogar dentro da mala. Ele fecha a mala às pressas e sai.

CENA QUARTO FILHA INT/DIA

Joga a mala sobre a cama, pega roupas da filha sem escolher muito e joga tudo dentro da mala. Fecha-a de qualquer jeito e sai.

CENA SALA DE ESTAR INT/DIA

O pai pega a menina pelo braço e tenta arrastá-la pra fora de casa. A boneca fica no chão. A filha se solta e volta pra buscar a boneca. Eles caminham em direção à porta.

(som de batida na porta)

POLICIAL

Abram em nome da lei!

CENA SALA DE ESTAR INT/DIA

O pai joga a mala pela janela. Depois levanta a menina e a passa pela janela. E pula pela janela também.

CENA QUARTO FILHA INT/DIA

Um soldado examina o quarto.

CENA QUARTO INT/DIA

Um soldado examina o quarto.

CENA QUINTAL INT/DIA

O pai joga a mala por cima do muro. Depois ele começa a erguer a menina. Ela está chorando.

(som de tiro)

POLICIAL

Parados!

O pai empurra a menina com toda a força. Ela cai do outro lado do muro. Os policiais o atacam a coronhadas. Ele cai.

POLICIAL

Sua esposa está morta e pela lei 5069/2013 vocês não são mais uma familia. E de acordo com as leis da Republica Cristã do Brasil vocês serão PURIFICADOS.

Os policiais atiram diversas vezes.

POLICIAL 2

E a menina?

POLICIAL

Bem, agora é hora de se divertir. Os dois começam a pular o muro. Sobre o peito do pai há um cordão com um pingente de crucifixo.

(FIM)

Autor: L.S. Alves

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Quinta Rodada

Ninguém está querendo correr do tema:

FUGA

Tema este que tem como origem os recentes refugiados “do mundo”.

Mande para desafioescrito@luzerna.ifc.edu.br seu texto, com título e autor, até o dia 10/11.

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