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Querida vovó


Peço desculpas por lhe deixar, sei que lhe devo muito desde a morte de meus pais, mas sei que não posso lhe levar, sua saúde está frágil, lhe desejo melhoras.

Vó, eu te deixei, fugi para longe, estou sendo perseguido, irei à Europa em busca de uma vida nova no velho continente.

Quero sua bênção para conseguir fugir e recomeçar, sempre lembrarei de você .

Espero conseguir, e não morrer afogado como tantos, chegar e ultrapassar as fronteiras, lhe deixo algumas economias que me restaram, a senhora precisará; eu vou a pé, sou jovem, ultrapasso o mar em um barco, levei alguns dólares.

Agradeço à senhora por me cuidar desde a morte de meus pais, pareço ingrato ao lhe deixar neste caos de milícias terroristas, mas a travessia é longa, posso acabar morto, mas mesmo assim eu lhe agradeço muito.

Ass: Seu neto.

 

Após esta carta fugi, abandonei tudo e morri. Não consegui passar ao mar, o capitão abandonou o velho barco lotado, lembrei de minha pobre avó e caí ao mar. Fui mais uma vítima do conflito que se alastra dia a dia, deixei o que havia de mais importante em minha vida, meu esforço foi inútil, perdi para a morte e as águas frias e escuras.

Autor: Gabriel de Rós