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A punição é a morte


Nesta hora, neste cômodo mal iluminado, decidi pôr um fim em minha vida. Não mereço viver neste mundo. Não sei o que fazer, pois meus erros não têm volta. Sou fraca. Não consigo aguentar essa dor (deve ser arrependimento, eu acho. Nunca senti isso na vida, ainda não sei como funciona).

Durante a minha infância, tudo que vivenciei foram trevas. Fui criticada, amaldiçoada por meu nascimento, e, por fim, abandonada à mercê de minha própria sorte. Por isso, por muitos e muitos anos me considerei superior à humanidade, e achava defeito em toda e qualquer criatura existente (quem, que já passou por situação semelhante, iria culpar-me por isso?). Tanto que decidi fazer justiça com minhas próprias mãos a todos a quem eu achava a penalidade da morte merecida, só para mostrar que não estava sob o controle de míseras regras impostas a uma sociedade que parecia inocente, mas era má.

Um dia, decidiram me punir por essas infrações, e aprisionaram-me em um cárcere injusto e violento. Foi onde conheci pessoas que compartilhavam o mesmo sentimento que eu: A repugnância. Pessoas que passaram pelo mesmo que eu. Passei meses planejando minha vingança, o que faria de destrutivo quando escapasse dali. Tempo, para mim, não era problema: eu permaneceria lá, perante as ridículas leis aplicadas a mim, por um prazo indeterminado.

Foi quando conheci alguém que mudou meu pensamento: Um ser inocente, que não havia feito nada para estar aqui. Me falou de sua família, da saudade que tinha da sua vida. Me mostrou uma bondade que eu nunca havia conhecido, que eu nunca achei que fosse possível existir.

Foi aí que percebi o quão cega fui durante minha vida, quantas vidas iguais à minha criei ao fazer justiça com minhas próprias mãos. Percebi que a única coisa que fiz foi fugir da verdade: Eu que era a pessoa má. E a punição para isso é a morte. Por isso, deixo esta carta à disposição para aquele que pensa fazer justiça com as próprias mãos. Só digo uma coisa: A punição para as pessoas más é a morte. Mas antes veja quem é a pessoa má da história.

Autora: Cecília Paulina