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Arrependimento (?)


E ela estava só, mesmo com centenas de pessoas ao seu redor. Sentia um vazio por dentro, que ela nunca tinha sentido antes. Como se tivessem arrancado seu coração e esmagado ele. Ela sabia o que era aquilo, mas não sabia o porquê. Até algumas horas antes, tudo estava tão perfeito, ela estava tão feliz… Mas a realidade deu-lhe um tapa na cara, mostrando que ninguém pode estar muito feliz, porque não é permitido. A felicidade é restrita, contida.

Mas como a realidade fez isso? Fácil. Fez ele trair ela, fez ela ver tudo. Simples assim. Aquele tapa na cara era mais que simples dor. Ela quase desmaiara diante daquela cena. E o pior: não sabia se chorava, gritava ou pegava um revólver. Mas era mais provável que fosse a última opção.

Ela não sabia se estava mais irritada com ele ou com ela mesma, para falar a verdade. O mundo era muito injusto. Por que isso não poderia acontecer com outro casal? Por que tinha que acontecer justo com eles, que estavam tão bem? Ela não entendia o motivo de ele precisar trair ela. Ela sem​​pre fez ele feliz, fazia ele sorrir todo dia, dava todo seu amor para ele. Não entendeu porque ele trocou tudo isso por algumas horas com outra. Já tinha feito planos para sua vida inteira, e ele estava em todos eles. Sonhava em se formar, com ele ao seu lado. Sonhava em ter filhos com ele.

E, em menos de um minuto, todos esses sonhos de meses, anos, desmoronaram, criando uma enorme e desordenada pilha no chão. Viu ele correndo em sua direção, mas ela era mais rápida e correu para sua casa, o mais rápido que conseguiu. Queria, naquele momento, fugir de todo mundo. Chegando em seu quarto, se jogou em sua cama e chorou alto em seu travesseiro durante o que pareceram horas, mas logo suas lágrimas foram silenciadas pelo barulho da porta, que estava sendo esmurrada com toda força. Como se quisessem quebrá-la. Como se quisessem entrar, urgentemente.

Começou a ouvir palavras de arrependimento, de perdão. De desculpas que pareciam sinceras. Mas fingiu que não ouviu. Achou que tivesse ouvido um choro de dor do outro lado da porta, mas ignorou. Ele teve sua chance com ela. Por mais que talvez ele estivesse arrependido, ela estava mais, naquela hora. Por ter confiado. Por ter amado. Ele teve sua chance. Agora não importava mais.

Autora: Cecília Paulina Johann Dammann