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A morte e a vida


Sempre existi na Terra, cumprindo ordens. Cada vez mais próxima de acabar minha missão. E um dia, finalmente, acabei. Mas foi curioso o modo como ocorreu: eu não precisei fazer nada, pois fizeram tudo por mim. Na verdade, nunca entendi como funcionava esta espécie. Sempre injusta, mentirosa, gananciosa, e sedenta por poder. Uma espécie baseada em autodestruição.

O mundo foi, aos poucos, definhando, pois aqueles que dominavam a Terra e tudo o que vinha dela se diziam superiores. Se gabavam por serem seres racionais, mas não faziam jus a este título: esmagavam os menores sem dó nem piedade; levavam milhares de espécies animais e vegetais à extinção por simples e hediondo prazer.

O princípio deste trágico fim havia passado despercebido por todos; afinal, para eles, a morte de milhões dos seus não importava, pois era considerada coisa natural da vida e causa natural da morte (“O mais forte domina, o mais fraco perece.”).

As evidências de que o fim estava próximo eram incontestáveis, eles sabiam, mas continuavam se recusando a enxergá-las, porque não criam que uma espécie tão poderosa como aquela poderia se extinguir do mesmo modo que tantas outras se extinguiram em suas mãos.

Primeiro, veio a peste. Assolou centenas de milhares durante muitos anos. Tantas lágrimas foram derramadas, tanto sofrimento que se instalou nos homens e mulheres saudáveis, pois viam todos os dias entes queridos morrendo em seus braços… Ah, sim, este foi um período trabalhoso para mim.

Depois, vieram as guerras. Nações lutando umas contra as outras por poder, dinheiro, fé ou mesmo sem ter um porquê, apenas porque gostavam de derramar sangue dos inocentes. Prazer estranho por esta carnificina, faziam muitos soldados lutarem por algo que nem sabiam do que se tratava. Fizeram homens deixarem suas mulheres e filhos para sobreviverem sozinhos, sem sustento, desejando a volta de seus pais e maridos em segurança… Tudo para depois de algumas semanas, os mesmos receberem cartas de sinceras condolências pela perda. Tanto sangue manchou os campos de batalha, tantos sonhos se esvaíram daquelas pobres almas sem serem realizados… Neste momento, tive pena do mundo pela existência de seres tão terríveis.

E então, por último, veio a fome. Muitos enlouqueceram por não terem o que comer e beber, outros por não conseguirem alimentar seus filhos pequenos e verem o sofrimento em suas faces. A cada passo que eu dava, via tantos rostos vazios e sem vida, muitos com a certeza de que não viveriam para ver o sol ao nascer do outro dia…

Neste dia, decidi que era a hora de efetivar minha missão, e foi o que eu fiz. Para deixá-los conscientes do quão impotentes eles eram, para deixá-los conscientes de seus erros. Se arrependeram, mas era tarde demais. Descobriram como deveriam ter vivido, mas agora não fazia mais diferença. Tiveram a vida toda para mudar. Sempre será tarde demais quando a morte vem visitá-lo.

Autora: Cecília Paulina (Alexia como Beta reader)