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“Não há possibilidade de deus” diz Stephen Hawking


De sua mesa na Universidade de Cambridge e além, Stephen Hawking enviou sua mente espiralando nas maiores profundezas dos buracos negros, irradiando através do cosmos infinito num grande vórtice através de bilhões de anos para testemunhar a primeira respiração do tempo. Ele viu a criação como um cientista, e quando foi chamado para discutir os grandes enigmas da criação – De onde viemos? Qual o nosso propósito? Estamos sozinhos? – Ele respondeu como um cientista, muitas vezes para o desgosto dos críticos religiosos.

Stephen Hawking's Final Book Says There's 'No Possibility' of God in Our Universe

Em seu livro final “Pequenas Respostas para Grandes Perguntas” o professor Hawking inicia uma série de 10 ensaios intergaláticos ao lidar com a mais antiga – e mais religiosamente carregada – pergunta de todas: Existe um deus?

A resposta de Hawking – garimpada de décadas de entrevistas, ensaios e discursos com o auxílio de sua família, colegas e do Instituto Stephen Hawking – não deveria ser uma surpresa para os leitores que seguiram seu trabalho, digamos, religiosamente.

“Eu penso que o universo foi espontaneamente criado do nada, de acordo com as leis da ciência”, escreveu Hawking, falecido em Março. “Se você aceitar, assim como eu, que as leis da natureza são fixas, então não demora muito para se questionar: Qual o papel que existe para deus?”.

Em vida, Hawking foi um defensor aguerrido da Teoria do Big Bang – a ideia de que o universo começou de uma explosão súbita oriunda de uma singularidade ultradensa menor que um átomo. Deste ponto emergiu toda a matéria, energia e espaço vazio que o universo teria, e todo este material cru evoluiu para o cosmos que nós percebemos hoje ao seguir um conjunto estrito de leis científicas. Para Hawking e muitos cientistas que seguem a mesma filosofia, as leis combinadas da gravitação, relatividade, física quântica e mais algumas outras poderia explicar tudo que já ocorreu e que ocorrerá em nosso universo.

“Se te agrada, você pode dizer que as leis são um trabalho de deus, mas isso é mais uma definição de deus que uma prova de sua existência”, escreveu Hawking.

Com o universo funcionando num piloto automático cientificamente guiado, o único papel para uma toda poderosa deidade poderia ser determinar as condições iniciais do universo, para que as leis tomassem forma – um criador divino que fez o Big Bang explodir, e então deu um passo para trás para observar o próprio trabalho.

“Será que deus criou as leis quânticas que permitiram a ocorrência do Big Bang?” escreveu Hawking. “Eu não tenho o desejo de ofender as pessoas de fé, mas penso que a ciência tenha uma explicação mais convincente que um criador divino”.

As explicações de Hawking começam com mecânica quântica, que explica como as partículas subatômicas se comportam. Em estudos quânticos, é comum ver partículas subatômicas como prótons e elétrons surgirem – aparentemente do nada, passearem um pouco e então desaparecer novamente em uma localização completamente diferente. Como o universo já foi do tamanho de uma partícula subatômica, é plausível que se comportou de maneira similar durante o Big Bang, escreveu Hawking.

“O próprio universo, em sua incompreensível vastidão e complexidade, poderia simplesmente ter surgido subitamente sem violar nenhuma lei conhecida da natureza”.

Isso ainda não explica a possibilidade de deus ter criado uma singularidade do tamanho de um próton, e então ter puxado a alavanca que ligou a mecânica quântica, fazendo com que o universo surgisse. Mas Hawking diz que a ciência também possui uma explicação para isso. Para ilustrar, ele utiliza a física de buracos negros – estrelas colapsadas tão densas que nem mesmo a luz consegue fugir do seu campo gravitacional.

Buracos negros, como o universo antes do Big Bang, condensam numa singularidade. Neste ultradenso ponto de massa, a gravidade é tão forte que distorce o tempo assim como a luz e o espaço. De maneira simples, nas profundezas de um buraco negro o tempo não existe.

Como o universo também começou como uma singularidade, o tempo não poderia ter existido antes do Big Bang. A resposta de Hawking, então, ao quê aconteceu antes do Big Bang é “não existia tempo antes do Big Bang”.

“Finalmente encontramos algo que não possui uma causa, porque não havia tempo para uma causa pudesse existir”, escreveu Hawking. “Para mim isso significa que não existe a possibilidade de um criador, porque não havia tempo para que um criador pudesse existir.”

Este argumento fará pouco para persuadir crentes teístas, mas esta nunca foi a intenção de Hawking. Como um cientista com uma devoção quase religiosa de compreender o cosmos, Hawking procurou “conhecer a mente de deus” ao aprender tudo que pôde sobre a autossuficiência do universo à nossa volta. Enquanto sua visão possa tornar um criador divino e as leis da natureza como coisas incompatíveis, ainda deixa um amplo espaço para fé, esperança, questionamentos e – especialmente – gratidão.

“Nós possuímos esta única vida para apreciar o grande design do universo,” Hawking conclui no primeiro capítulo de seu último livro, “e sou extremamente grato por isto”.

Publicação original

https://www.livescience.com/63854-stephen-hawking-says-no-god.html

Tradução by David R. José.